Para enfrentar os desafios da proteção ao clima e da redução da poluição atmosférica, uma questão decisiva é a eletrificação dos sistemas energéticos. Em 2021, nenhum país no mundo inteiro respeitou os padrões de qualidade do ar indicados pela Organização Mundial de Saúde. Somente 3,4% das cidades do planeta conseguiram permanecer abaixo do valor de 5 microgramas por metro cúbico de partículas PM 2,5 (as chamadas partículas finas), como indica uma pesquisa realizada pela sociedade suíça IQAir, especializada em tecnologias que monitoram a qualidade do ar. Em 2020, a Agência Europeia do Ambiente concluiu que na UE as partículas finas provocam cerca de 417.000 mortes prematuras por ano. Isso é consequência do uso pesado de combustíveis fósseis, particularmente das emissões de tubos de escape e caldeiras. Portanto, existe uma solução: eletrificar os bens de consumo. O crescimento sustentável, sustentado pela eletrificação Segundo uma análise publicada em junho de 2021 pela IRENA, a Agência Internacional de Energia Renovável, a eletrificação dos produtos finais – ou seja, do transporte privado e público, e de quaisquer atividades conduzidas em residências, mas também na indústria e na agricultura – representa, por si só, 20% das medidas para o abatimento das emissões de gases do efeito estufa até 2050. Até lá, para manter o aumento da temperatura média global abaixo de 1,5°C, a eletricidade deverá se tornar o principal vetor energético, ultrapassando os 50% do consumo final total de energia, em comparação aos 21% de 2018. A União Europeia quer chegar aos 60% até a metade do século. Um objetivo muito ambicioso, considerando que, hoje em dia, o principal recurso energético ainda é constituído por combustíveis fósseis. Imaginar um futuro sustentável e limpo significa, então, projetar um mundo alimentado pela eletricidade, utilizando como procedência primária as fontes renováveis como o sol, o calor da Terra, a água e o vento. Da mobilidade aos sistemas energéticos domésticos e smart cities Uma das maiores causas de poluição atmosférica (e acústica) nas cidades são os escapamentos dos veículos com motor a combustão interna. Um estudo conduzido na Itália pelo CNR - Consiglio Nazionale delle Ricerche (Conselho nacional de Pesquisas) e pela Motus-E, uma associação pela promoção da mobilidade elétrica, indica que a substituição dos veículos atuais por veículos elétricos contribui de maneira determinante, em praticamente todos os cenários, à redução das concentrações de poluentes locais, principalmente o NO2 (dióxido de azoto), o que também reduz o número de mortes prematuras. Assim como o transporte sobre quatro rodas, o transporte a duas rodas também está avançando rapidamente em direção à eletrificação, começando pelas e-bikes e scooters. Um ponto de virada importante pode surgir do transporte público: cada vez mais administrações locais, no mundo inteiro, decidem mudar para frotas de ônibus elétricos, para obter um sistema de transporte sustentável e integrado, monitorado em tempo real e administrado de maneira remota e flexível, o que será o cerne das futuras smart cities. Um outro fator poluente do ar vem das nossas próprias casas e dos prédios em geral, e tem a ver principalmente com os sistemas de aquecimento. De acordo com um estudo da UE que acompanha o “Plano dos objetivos climáticos de 2030”, graças ao uso de bombas de calor e de reformas mais profundas que integrem plenamente as tecnologias smart, a cota de eletricidade na demanda final de energia no setor da construção civil irá subir de 42% em 2030 a 72% em 2050. Uma solução que também é econômica Um aspecto significativo da eletrificação é também o fator econômico, porque os sistemas energéticos elétricos apresentam padrões de eficiência muito elevados e reduzem significativamente o desperdício. Por exemplo, uma bomba de calor elétrica utiliza cerca de três vezes menos energia comparada a uma caldeira a gás, para produzir o mesmo resultado. Os fogões a indução chegam a render até duas vezes mais em comparação aos fogões tradicionais a gás, além de garantir um desempenho mais uniforme, uma regulação mais precisa da temperatura e uma maior segurança. Por sua vez, os veículos elétricos são de três a cinco vezes mais eficientes do que aqueles com motores de combustão. Resumindo, isso significa uma redução de gastos para fornecedores, empresas, e na conta de luz do consumidor final.