Engajamento comunitário: um aspecto-chave na aquisição de energia renovável

A energia renovável está impulsionando a transição para economias verdes e descarbonizadas. No entanto, construir mais centrais eólicas e solares não é suficiente. Estas estruturas devem ir além da geração de energia limpa e da substituição dos combustíveis fósseis: também precisam implementar práticas que criem mais benefícios para os ecossistemas locais, em termos sociais e ambientais, conforme os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS). Como mencionado em nosso artigo anterior, “Uso do solo, habitats e RE: Enel Green Power reforça a sustentabilidade”, um exemplo de tais práticas é a integração entre a preservação do solo e a proteção da biodiversidade local no planejamento e na construção de novos projetos. Outro exemplo a ser citado é o desenvolvimento de projetos que possam trazer benefícios às comunidades próximas às usinas e melhorar sua qualidade de vida, além de proporcionar-lhe um fornecimento de energia limpa. Com esta finalidade, “empresas que investem na aquisição de energia renovável precisam considerar os impactos sociais em seus PPAs - Power Purchase Agreements (Contratos de Compra e Venda de Energia Renovável), levando em conta questões de equidade, justiça ambiental e racial”, de acordo com um relatório recente da Salesforce intitulado ‘More Than a Megawatt: Embedding Social & Environmental Impact in the Renewable Energy Procurement Process’ (Mais do que um Megawatt: Englobando o Impacto Social e Ambiental no Processo de Aquisição de Energia Renovável). O relatório estabelece uma série de critérios para ajudar os compradores a identificar os melhores desenvolvedores de energia renovável, com base em suas práticas de sustentabilidade. De acordo com a Salesforce, um destes critérios é o grau de engajamento comunitário de cada desenvolvedor, e a criação de valor compartilhado. Os desenvolvedores devem encontrar maneiras de compartilhar os benefícios tangíveis de projetos de energia renovável com as comunidades locais. Quando feito de maneira certa, o engajamento comunitário promove a confiança, o senso de propriedade e o orgulho pelo projeto. De acordo com o relatório da Salesforce, “Embora não exista apenas uma solução adequada para todos, os compradores devem avaliar os desenvolvedores com base em seu investimento no engajamento comunitário e nos planos para o compartilhamento de benefícios (de qualquer natureza)”. O engajamento comunitário pode, por exemplo, incluir reuniões com investidores para solucionar dúvidas, abordar questões relevantes e solicitar opiniões. Desta forma, os desenvolvedores podem aprender mais sobre as necessidades específicas das comunidades locais e trabalhar lado a lado com os moradores para determinar a melhor maneira de suprir suas necessidades. Este tipo de investimento estimula a aprovação e o apoio da comunidade ao projeto de energia renovável. O Projeto Curibamba da Enel Green Power Um modelo bem-sucedido de engajamento comunitário é o projeto Curibamba, implementado pela Enel Green Power em colaboração com as comunidades rurais ao redor de uma usina hidrelétrica de 200 MW construída nas bacias dos rios Comas, Uchubamba e Tulumayo, no Peru. O desenvolvimento das comunidades rurais desta área, localizada a 300 km da capital, Lima, depende do melhoramento das estradas, de novos sistemas de saneamento, investimentos em educação, cultura e esportes, e do apoio ao comércio agrícola local. Enquanto a energia limpa gerada pela nova usina hidrelétrica, desempenha um papel fundamental na resposta às crescentes necessidades de energia da região, a Enel Green Power organizou reuniões com investidores para idealizar outras maneiras de melhorar as condições de vida dos moradores. Durante a consulta com a comunidade, descobriu-se que, apesar de possuir um solo perfeito para o cultivo do café, os agricultores não conseguiam produzir colheitas de qualidade, pois não possuíam o maquinário adequado, assim como infraestrutura apropriada e habilidades técnicas. Como resultado deste diálogo, em 2012, surgiu o projeto Café Curibamba, nas vilas de Uchubamba, San Cristobal de Marancocha e San José de Villano. Trata-se de um programa de treinamento e capacitação de 80 agricultores – 57 homens e 23 mulheres – das comunidades próximas ao empreendimento da Enel Green Power. Novas ferramentas de empoderamento para as comunidades O projeto Curibamba obteve muitos resultados positivos: os agricultores tiveram a chance de aumentar a produção em cerca de 80 hectares de plantações de café, graças a um sistema agroflorestal que compreende o plantio de diversas espécies de árvores ao redor das plantas, para sombrear os pés de café. Em 2016, a Enel Green Power forneceu 5.000 mudas de pinho, ulcumano e shaina (bordo japonês) aos cultivadores de café. O número de árvores subiu para 110 por hectare, com 19 espécies arbóreas diferentes criando um ecossistema de biodiversidade nos lotes de café. O projeto também envolveu a capacitação em técnicas de plantio de café. Até agora, já foram realizados mais de 290 treinamentos e mais de 5.800 visitas técnicas aos terrenos. Dois cafeicultores receberam treinamento profissional em degustação e torrefação de café. Os agricultores participaram de cinco estágios e várias exposições para promover seus produtos. Além disso, equipes de especialistas em técnicas de produção de café e manutenção das lavouras fazem visitas periódicas às famílias de agricultores, oferecendo apoio, orientação prática e treinamento contínuo. As comunidades também foram equipadas com maquinário para moagem e torração, possibilitando a produção de um café de qualidade superior que pudesse competir no mercado. A Enel Green Power também forneceu 80 módulos de processamento de café (tanques de fermentação, secadores solares, tanques sépticos e composteiras) para melhorar higiene e qualidade do produto. Em 2016, um grupo de 45 cafeicultores locais dos quais 11 mulheres, formaram a Cooperativa Agraria de Cafés Especiales Curibamba. Ao longo de cinco anos, a renda anual local pela venda de café aumentou em 52%, e o rendimento por hectare de café aumentou de 3,5 para 10 quintais – um aumento de 185%. Compartilhando benefícios, melhorando vidas Atualmente, cerca de 150 famílias participam do projeto Curibamba, e mais 35 hectares de terras com 175.000 novas plantas de café-arábica foram cultivados. Graças a um acordo com empresas peruanas especializadas em marketing do setor cafeeiro, a Enel Green Power possibilitou que as famílias da Cooperativa Curibamba lançassem seus produtos no mercado nacional. Até agora, as comunidades venderam cerca de 16 toneladas de café acima do valor de mercado, e os membros da comunidade participaram da exposição gastronômica EXPOCAFE de 2018. A Enel Green Power ofereceu às famílias de agricultores, material e apoio direto equivalente a cerca de 60% dos custos totais. A empresa não doou dinheiro, porém se envolveu direta e construtivamente, oferecendo serviços para a melhoria da produção e o aumento da qualidade. Desta forma tomou medidas concretas para implementar o ODS 8 da ONU, que exige a promoção de um crescimento econômico inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho digno para todos. A energia renovável tem o potencial de empoderar vidas e comunidades, bem como impulsionar economias verdes. Ao observar de perto estratégias e projetos postos em prática por desenvolvedores de energia renovável para envolver as comunidades ao redor de suas usinas e compartilhar benefícios, empresas investidoras em energia renovável tem a chance de maximizar os impactos positivos da aquisição de energia, minimizando, ao mesmo tempo, os impactos negativos.

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